Educação como pano de fundo!

Sociologicamente a educação deveria estar entre as prioridades nas políticas públicas. Deveria ser o pano de fundo em todas as sociedades. As diferentes culturas, como as indígenas, por exemplo, tratam a educação de suas crianças e jovens com muita seriedade. Trata-se de preservar a própria sociedade indígena. Por que nas sociedades como a brasileira (que tenta incluir as diferenças) ainda está em passos de tartaruga e só apostando na educação quando os jornais noticiam fracassos e fiascos da educação? Precisamos virar notícia para termos uma política educativa de qualidade? Ainda aguardo a inclusão digital da educação nesses primeiros anos do novo século.

terça-feira, 5 de abril de 2011

METODOLOGIA DE PROJETOS - Eu acredito


Gostaria de falar sobre Metodologias no Ensino. Um assunto que preocupa alguns professores, principalmente os novos.
Quando atuava como “Capacitadora de Informática Educativa”, pela SME, usava, quase que exclusivamente a metologia de projetos, por ser a metodologia que mais se adequava a proposta do uso da tecnologia da informação.
Na época nós capacitadores tivemos que participar de uma atualização, por CREs, para levarmos a nova proposta aos professores que se inscreviam no curso.
Em resumo a metodologia de projetos é uma proposta de aprendizagem ativa, tendo como objetivo viabilizar uma aprendizagem mais significativa e participativa. Poderíamos acrescentar, também, mais democrática.
Para ilustrarmos o assunto vamos fazer um breve relato histórico de como surgiu.




A Pedagogia de Projetos surgiu no início do século XX, com John Dewey e outros representantes da chamada "Pedagogia Ativa", tendo com seu precursor aqui no Brasil, Anísio Teixeira.  Interessados por uma concepção de educação, em que esta é encarada como um processo de vida e não apenas uma preparação para a vida futura. Assim, a educação na escola deveria representar a vida presente tão real e vital para o aluno como a que ele vivia em casa, no bairro, no mundo. Considerando que “a escola é o retrato da sociedade a que serve” parte-se da ideia de que as transformações sociais são os postulados para a transformação da educação e do que é ensinado nas escolas.
Com o passar do tempo, mais de um século, e essa afirmação continua ainda atual. Qual a função social da escola? Qual o significado das experiências escolares para os que dela participam?  Que tipos conhecimentos os alunos necessitam? Que novas formas de ensinar e de aprender estão presentes em nossa sociedade atual?

O contemporâneo já é passado. Com as recentes mudanças na conjuntura mundial, com a globalização da economia, a informatização dos processos e a ampliação dos meios de comunicação e de informação têm trazido uma série de reflexões sobre o papel da escola dentro desse novo modelo de sociedade.

Estudos de Piaget e Vigotsky defendem a aprendizagem baseada na interação com o ambiente, os objetos do cotidiano, a cultura sócio histórica e principalmente com outros indivíduos. A educação só se processaria em função de interações sociais, a cultura escolar ainda contempla uma série de tradições que privilegiam determinados padrões de aprendizagem, que têm sido questionados e exigem mudanças com o objetivo de alcançar um processo mais abrangente, plural e que atenda as diversidades de cultura, comportamento, e características próprias de cada aluno de uma sala de aula ou de uma classe.
Metodologias tradicionais que trabalhavam os conteúdos escolares de maneira fragmentada, pois seguiam em sua maioria o arranjo e presentes nos livros didáticos. Dessa forma os conteúdos seriam ensinados de forma nem sempre seguindo uma organização lógica.
Como a metodologia e a pedagogia, por sua semântica similar, método, caminho, andar junto, passou-se a se designar, pedagogia de projetos para metodologia de projetos.



Assim, a  "Métodologia de Projetos" de Dewey e Kilpatrick, foi  considerada um "método" que deveria passar a ser visualizada e aplicada com uma postura pedagógica.

Pois a mesma levava a um aprofundamento de diferentes formas de se aplicar as ideias desses dois pensadores.  
Essa diferenciação entre pedagogia e metodologia também se deve a  Pedagogia de Projetos ter sido encarada como mais um modismo na área educacional,  e muitas escolas trabalham ou dizem trabalhar com Projetos.
 Porém a falta de conhecimento sobre essa prática tem levado o professor a conduzir atividades totalmente incipientes rotulando-as de Projetos.
A Pedagogia de Projetos surgiu da necessidade de desenvolver uma metodologia de trabalho pedagógico e que tornasse a educação mais de acordo com a evolução pela qual a sociedade tem passado. Assim, a preocupação por uma educação atraente e que o aluno se sentisse participativo e o que valorizasse a participação do educando e do educador nesse processo de ensino-aprendizagem, tornando-os responsáveis pela elaboração e desenvolvimento de sua própria educação.
Uma das formas de se aplicar a educação através de Projetos  é por meio da participação ativa dos educandos. Estes vivenciam situações-problema, que geralmente são retiradas do seu cotidiano, e, refletindo sobre essas situações eles possam, trabalhando coletivamente resolver essas situações-problemas. O papel que cabe ao educador nessa forma de ensino é o de resgatar as experiências do educando e auxiliá-lo na identificação dos problemas; auxiliá-los em suas reflexões e auxiliá-los na concretização de formas como resolver o problema em estudo.
A aprendizagem acontece quando a teoria e a prática se misturam, isto é, uma auxilia a outra. Nesse processo o conceito  não é recebido de forma passiva, ao contrário: os conceitos são produzidos e até mesmo construídos pelos alunos.

São várias as modalidades de projetos educativos integrados, mas de um modo geral todas envolvem atitudes interdisciplinares, planejamento conjunto, participação ativa e compartilhada entre professores e professoras e seus alunos e alunas, bem como aspectos da realidade cotidiana de ambos. Dessa forma, todos são co-responsáveis pelo desenvolvimento do trabalho e, principalmente, vislumbram a possibilidade de, cada um, expor sua singularidade e encontrar um lugar para sua participação na aprendizagem.

A organização do trabalho escolar por projetos sugere o reconhecimento da flexibilização organizativa, não mais linear e por disciplinas, mas em espiral, pela possibilidade de promover as inter-relações entre as diferentes fontes e os desafios impostos pelo cotidiano, ou seja, articular os pontos de vista disjuntos do saber, num ciclo ativo aprendendo a utilizar fontes de informação contrapostas ou complementares, e sabendo que ... "todo ponto de chegada constitui em si um novo ponto de partida" (Hernández, 1998, p.48).

Hernández chama Projeto de trabalho o enfoque integrador da construção de conhecimento que transgride o formato da educação tradicional de transmissão de saberes compartimentados e selecionados pelo/a professor/a e reforça que o projeto não é uma metodologia, mas uma forma de refletir sobre a escola e sua função. Como tal, sempre será diferente em cada contexto. Há um conceito de educação que permeia esta modalidade de ensino que entende a função da aprendizagem como desenvolvimento da compreensão que se constrói a partir de uma produção ativa de significados e do entendimento daquilo que pesquisam, identificando diferentes fatos, buscando explicações, formulando hipóteses enfim, confrontando dados para poder realizar "uma variedade de ações de compreensão que mostrem uma interpretação do tema, e, ao mesmo tempo, um avanço sobre o mesmo".
Um problema, uma situação conflitante ou algo que está intrigando alunos e alunas pode ser um bom início de projeto, uma vez que favorece o interesse e a busca das informações, esta entendida como construção de saberes interligados. Indica também a importância de envolver no projeto, várias áreas de conhecimento, presentes tanto na escola, como fora dela.

A partir das respostas do grupo, o professor a vai compondo com seus alunos e alunas, um roteiro de construção de conhecimento, no qual estão entrelaçados os objetivos, conceitos e conteúdos elencados no planejamento pedagógico da área de Artes Visuais. Fica estabelecido, também, quem registrará cada etapa do trabalho e como isso será feito. Os relatórios com os registros dessas observações, servem de suporte para dar continuidade ao planejamento do roteiro. É conveniente que o grupo possa contar com a assessoria de outros profissionais, de modo que a pesquisa possa ser enriquecida com saberes de diferentes áreas do conhecimento.
Etapas de um projeto: como fazer?
Hernández aponta como possíveis etapas:
- determinar com o grupo a temática a ser estudada e princípios norteadores
- definir etapas: planejar e organizar as ações - divisão dos grupos, definição dos assuntos a serem pesquisados, procedimentos e delimitação do tempo de duração
- socializar periodicamente os resultados obtidos nas investigações (identificação de conhecimentos construídos)
- estabelecer com o grupo os critérios de avaliação
- avaliar cada etapa do trabalho, realizando os ajustes necessários
- fazer o fechamento do projeto propondo uma produção final, como elaboração de um livro, apresentação de um vídeo, uma cena de teatro ou uma exposição que dê visibilidade a todo processo vivenciado e possa servir de foco para um outro projeto educativo.
Esta forma de organização de saberes que vai se construindo como uma rede, sensibiliza alunos e alunas para aquilo que lhes interessa ou preocupa, legitimando a função social da escola. Possibilita a validade do conhecimento aprendido, resultando numa melhor decisão para a qualidade de vida na sociedade e reconhece o sujeito cidadão, capaz de se inserir no pensamento coletivo para o compartilhamento de espaços e serviços comuns.

A aprendizagem é desencadeada a partir de um problema que surge e que conduz à sua investigação, à busca de informações de como solucioná-lo. O aluno se vê na necessidade de buscar conceitos que o ajudem nessa solução e às vezes até mesmo a construir novos conceitos.
O ensino passa a ser significativo. O conceito é ressignificado.
Outro aspecto positivo que podemos destacar é que através da pedagogia de
projetos os conteúdos podem ter um caráter de interdisciplinaridade transformando significativos os estudos das diferentes disciplinas. Assim, a matemática, as ciências naturais, por exemplo se justificam no currículo escolar.

Incluir o aluno na análise e na decisão, de questões que lhe dizem respeito, contribui para o desenvolvimento consciente de sua cidadania. A escola, em particular, é o lugar para oportunizar este tipo de aprendizagem: o exercício da tomada de decisões, tanto individuais como coletivas. Ao refletir sobre suas próprias concepções, frente às de outros, o aluno amplia seu repertório de alternativas para uma determinada situação e provoca a desestabilização e o descentramento de seus critérios de inserção na coletividade.


O/a professor/a frente aos projetos: o que fazer?
. é pesquisador da realidade e conduz os alunos/as ao exercício da observação, percepção, análise crítica e criatividade
. compreende sua responsabilidade social e investe na interação
. sabe como se constrói conhecimento e planeja levando em conta o aluno real
. avalia permanentemente sua prática e a modifica
. é comprometido com novos paradigmas que orientam o pensar pedagógico
. é um observador constante e atento, mediando as ações e interagindo com seus alunos.

É importante ressaltar novamente que não há um método ou uma fórmula pronta para desenvolver projetos, mas sim uma concepção diferenciada do/a professor/a em relação ao ensinar e aprender. Esta será sempre uma relação de troca e de construções sociais interativas, nas quais todos são importantes parceiros e colaboradores.

Referências:

ARANHA, M. L.. História da educação. São Paulo: Moderna, 1989.

ARROYO, Miguel. Escola plural. Proposta pedagógica Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte. Belo Horizonte: SMED, 1994.

HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed,1998.

HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000.

MORIN, E. El método: la naturaleza de la naturaleza. Madrid: Cátedra, 1981.

SANTOMÉ, Jurjo T. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.



BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

HERNÁNDEZ, Fernando.; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5ed., Porto Alegre: Artmed, 1998.

PETRY KEHRWALD, Isabel. Ler e escrever em Artes Visuais. In: NEVES, Iara et al. (orgs.). 4ed. Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001.

SACRISTÁN, J. Gimeno. A educação obrigatória: seu sentido educativo e social. Porto Alegre: Artmed, 2001.


Angela dos Santos Araújo

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